O Procurado (Wanted)

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Wanted (ou “O Procurado”, no Brasil) foi um dos arrasa-quarteirões mais populares do ano passado. Combinando ação vertiginosa, um apurado sendo estético e Angelina Jolie, o longa dirigido pelo comunista russo Timur Bekmambetov faturou mais de US$340 milhões nas bilheterias mundiais, além de indicações ao Oscar (Edição e Mixagem de som), ao Critics Choice Award por Melhor Filme de Ação e ao SAG por Melhor Dublê, premiações essas que refletem o caráter “blockbuster” do longa, e o quanto ele foi bem-sucedido nesse aspecto.

Todavia, o que poucas pessoas sabem (isso é, fora do meio geek) é que a película se trata, na verdade, de uma adaptação de uma HQ de mesmo nome escrita por Mark Millar (Os Supremos) e desenhada por J.G Jones (Final Crisis), em formato de minissérie, com seis edições, que lá fora foi publicada pelo selo Top Cow e, aqui, no Brasil, pela Mythos, em três edições (hoje, meio impossíveis de se encontrar).

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A premissa de ambas é similar: Wesley Gibson é um genuíno lifeloser (ou seja, alguém cujo nome estaria no dicionário como sinônimo de “patético”): foi abandonado pelo pai antes de conhecê-lo, a mãe (quando viva) era biruta, seu empreço é maçante, sua namorada o trai com seu melhor amigo, é alvo de zombaria dos jovens ‘gangasta’ hispânicos do seu bairro, sua chefe é uma vadia opressora, seu futuro não tem perspectivas etc. Mas tudo isso muda quando ele cruza com a letal Fox, que veio avisá-lo da morte de seu pai, um renomado assassino do submundo conhecido como O Assassino, e da grande fortuna que lhe espera, caso ele se disponha a atravessar certas provações.

É desse ponto em diante que as diferenças começam a se acentuar; o filme de Bekmambetov envereda por um realismo relativo, calcado em conceitos absurdos porém toleráveis à audiência, já acostumada com as “liberdades criativas” que filmes do gênero costumam tomar (balas fazendo curvas em pleno ar, por exemplo). Além disso, o tom da trama, assim como as motivações dos personagens e suas ações foram significativamente modificados a fim de se encaixarem no establishment hollywoodiano.

Já a obra em quadrinhos de Millar e Jones é uma ode ao anarquismo caótico que visa a retratar a libertação sangrenta e violenta de um cidadão comum das amarras morais e éticas que “acorrentam” a todos nós. Wesley renuncia à sua vida ordinária e abraça um novo – e insano – paradigma social, no qual ações como assassinatos e estupros são corriqueiras, tratadas com uma indiferença ímpar. Um delírio niilista.

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Para leitores habituais de quadrinhos – especialmente os de super-heróis – a HQ é um prato cheio, repleta de easter eggs (vide as botas d’O Assassino) e de referências a personagens das duas grandes editoras, Marvel e DC. Fuckwit (possível referência ao Cara-de-Cu (Preacher)), por exemplo, lembra o Bizarro, algoz do Homem de Aço; Brain Box tem o semblante de Brainiac; Imp é provavelmente algum parente distante de Mr. Mxyzptlk; Shithead é (literalmente) uma versão de merda de Clayface e assim sucessivamente.

Não cometa, todavia, o erro de encarar O Procurado como sendo um entretenimento ‘sério’ ou ‘adulto’. Não é e nunca foi a intenção de Millar criar um Watchmen pós-moderno. A revista esbanja escárnio, é acompanhada por um constante senso de auto-paródia, subverta de forma extrema e absurda as convenções do gênero num tom assumidamente caricato. Quaisquer dúvidas quanto às intenções dos autores são dissipadas pela última página da sexta edição, que provocou a ira de muitos leitores por justamente “tocar na ferida” (só lendo pra entender).

A título de curiosidade, certos personagens foram moldados a partir de celebridades reais: Wesley é a cara de Eminem, seu pai a de Tommy Lee Jones, e Fox remete à Halle Berry. Quando da pré-produção do longa, nos idos de 2006, Millar, malandrosamente, clamou inúmeras vezes que o supramencionado rapper estaria em negociações com a Universal para interpretar o protagonista. Isso despertou a ira do músico, que nunca foi procurado pelo estúdio a respeito do longa. Uma bela jogada de marketing para chamar a atenção da mídia.

2 Responses to O Procurado (Wanted)

  1. taizze disse:

    Eu não sabia que era dos quadrinhos que veio o filme. =O
    Pelo menos eu não percebi, porque lembro de ter visto algo sobre a HQ.

    Enfim, eu vi o filme e gostei até, mas como tem diferenças entre os dois, parece que a HQ é muito melhor (regra do original < adaptação). =D

  2. Breno disse:

    Engraçado é que eu curto o filme e detesto a HQ.
    Em fim… acho que o pior mesmo é o final da HQ. Sempre que eu leio me sinto um otário por ter pago uma HQ cujo final é tão babaca. Fora que a premissa do filme, apesar de ser clichê, é bem mais legal.

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